territorios.org    
Arquitetura e Tecnologia
Conceitos sobre Arquitetura Primitiva
Arquitetura Egípcia
Arquitetura Grega
Arquitetura Romana
Arquitetura Árabe
Arquitetura Românica
Arquitetura Gótica
Arquitetura do Renascimento
Giovani Batista Piranesi
Arquitetura do Art Nouveau
Movimento do Construtivismo Russo
Arquitetura e Revolução Industrial
Escola Bauhaus de Arte e Tecnologia
Considerações sobre os arquitetos Mies van der Rohe e Le Corbusier
Movimento Internacional Situacionista
Movimento Archigram
Arquitetura Metabolista Japonesa
Movimento do Desconstrutivismo
Novas tecnologias como mediação do espaço urbano
Sistemas urbanos flexíveis e seus impactos no sistema urbano
A descontinuidade do espaço-tempo redefinindo o conceito de lugar
As mídias digitais e as simulações na arquitetura
As interfaces digitais e a interatividade
A virtualidade enquanto realidade possível
Diagramas digitais e arquitetura
Sistemas evolutivos e animação digital
Grupo de Estudos Experimentais - UFES
Grupo de Pesquisa Cartografias Urbanas - UNILESTE/MG
Outros artigos do Prof. Bruno Massara Rocha
   

A ARQUITETURA DO RENASCIMENTO

Bruno Massara Rocha

 

O período do Renascimento foi caracterizado sobretudo pela quantidade de gênios que produziu. Veremos uma transformação radical na estruturação econômica na Europa: vitória do comércio, baseado na moeda e no crédito sobre o obsoleto sistema de permutas até então em uso; um rápido aumento de prosperidade na classe média, propiciando condições favoráveis ao fomento das artes e à proteção dos artistas, traduzindo em uma febril construção de palácios e, igrejas. Esta euforia, de índole econômica foi sentida primeiramente na Itália, em Florença. A Itália era um legitimo ninho de gênios em todas as modalidades da arte. Reinos da Europa se transformaram em Estados fortes, profundas transformações na religião, nas idéias e comportamento. Temos uma nova consciência do próprio homem como centro e medida de todas as coisas. Eles encontraram na literatura grega e romana uma valorização da natureza, do corpo humano e do mérito pessoal. Esses escritos antigos não estavam inteiramente perdidos. Durante séculos, as bibliotecas dos mosteiros tinha copiado e guardado os livros de Cícero, Virgílio e Aristóteles. Gradualmente, mais e mais manuscritos foram sendo descobertos por estudiosos.

Um dos principais estudiosos do renascimento foi Francesco Petrarca. Ele nasceu em 1304 e estudou direito em Bolonha. Interessava-se em ler e escrever poesias em latim e italiano. A filosofia e os valores dos antigos desvendaram-se aos seus olhos, e sua formação crista medieval foi confrontada por uma cultura ã liberdade. O amor grego à beleza física, à natureza, a liberdade e os ideais das cidades-estado gregas apresentavam-se-lhes juntamente com a consciência histórica, o poder político e a determinação firme dos romanos. Cícero, studia humanitatis - estudos liberais: estudos considerados essenciais a um homem livre nas épocas grega e romana - gramática, retórica, história, poesia e a filosofia moral. Humanista era o nome dado aqueles que recebiam tal educação. Humanismo: nome dado pelos historiadores ao fenômeno cultural geral do século XV. O Renascimento foi o movimento artístico e intelectual que resultou do humanismo, ressuscitando uma cultura e valores que tinham estado enterrados por séculos.

Escritores que tinham estado mudos durante anos poderiam voltar à vida. Petrarca se referindo a Homero e Platão.

O amor à cultura clássica e à natureza era o seu pecado (segundo o Cardeal Dominici, professor da universidade de Pádua, referindo-se aos humanistas florentinos). O próprio Petrarca achava difícil conciliar o seu amor pela beleza, pelas plantas e flores com o seu profundo cristianismo.

Uma nova arquitetura para a sociedade renascentista.

Com base em um afresco de um artista desconhecido intitulado Vista de Florença, 1342, parece quase impossível que os florentinos se preocupassem, desde pelo menos 1299, com a urbanização de sua cidade, com a ampliação e retificação de suas ruas por razoes de beleza e conforto. Entretanto, a comuna de Florença já havia trabalhado questões urbanísticas como a autorização dada para a expropriação de imóveis fronteiros à Igreja Santa Maria Novella para a ampliação de sua piazza. Em 1327, foi apresentada uma petição a comuna descrevendo a área defronte à Igreja de Santa Maria de Carmine como um "lugar imundo, um terreno usado como depósito de lixo" que envergonhava todo o bairro. Sugeriram a sua conversão em uma piazza, "para aquilo que hoje é desgracioso e sórdido se torne atraente para o transeunte''. Mas, na verdade, se repararmos com atenção ao quadro veremos que os edifícios são amontoados, imóveis de vários pisos que se elevam mais que o vizinho, privando-o de luz e ar; ausência de um planejamento urbano.

O desejo de mais espaço e de construções harmoniosas e belas em ambientes adequados era uma ambição generalizada entre o povo da Toscana. 1309, em Siena: os responsáveis pelo governo devem ter atenção particular ao embelezamento , ingrediente fundamental em uma comunidade civilizada.

A Catedral de Santa Maria del Fiore foi considerada um gigantesco guarda sol no centro de Florença. Iniciada em 1296 por Arnolfo di Cambio, a construção continuou sob a direção de Giotto, que deu atenção especial à torre e ao campanário. Um grande numero de edifícios foi demolida para que se tivesse uma vista ampla da catedral. Foram alargadas para 21 metros as ruas e edificações, "de modo que esta catedral seja cercada por belas e espaçosas ruas, que reflitam a honra e o interesse pelos bens públicos dos cidadãos florentinos". A largura da nave central e das naves laterais fazia com que um espaço extremamente amplo tivesse que ser coberto. Entretanto, cobri-lo com o domo seria impossível com os conhecimentos técnicos da época. Nesse tempo, as abóbadas eram construídas como arcos pelo método do cimbre: uma viga era colocada de um lado a outro do vão no topo das paredes; uma moldura de madeira instalada sobre a viga sustentava os tijolos do arco ate ser conseguida a altura desejada, e a séria final de tijolos sustentava-se a si mesmo graças a inserção de um último tijolo central, o fecho e abóbada ou pedra angular. Assim, o arco se mantinha no lugar graça a pressão dos tijolos uns contra os outros. O madeirame de sustentação podia então ser retirado. Construir uma abóbada sobre a nave central e as naves laterais de Santa Maria del Fiore teria requerido uma viga suficientemente extensa para ir de um lado ao outro da tribuna octogonal, um vão de cerca de 43 metros. Ora, semelhante viga não existia, simplesmente. Brunelleschi estudou o Panteão de Roma e outras abobadas romanas e descobriu um modo de construir um domo assentando no tambor de pedra octogonal uma serie de anéis concêntricos ou fieiras horizontais de tijolos e pedras, cada uma suficientemente forte para sustentar a seguinte. As pedras formaram, pois, oito pesados espigões assentados nas esquinas do octógono. Para fins de isolamento e também com vista à suntuosidade, Brunelleschi construiu duas abóbadas, uma interna e outra externa., o que contribuiu para reduzir o peso da abóbada exterior. Entre os espigões, a tensão elástica dos painéis intermediários parece manter o domo aberto, como se estivesse cheio de ar, à semelhança de um imenso guarda-sol aberto sobre o coração de Florença. O domo de Santa Maria del Fiore serviu para coroar Florença, não só como cidade-estado medieval, mas também pelo seu novo papel de capital da Toscana. O artista Alberti, que entendeu o significado político mais amplo da obra de Brunelleschi, disse que o domo era "suficientemente vasto para conter toda a população toscana".

A pouca distância da Catedral, o maior de todos os cenários estava sendo construído durante esses mesmos anos: a Piazza della Signoria. O Palazzo Vecchio, sede da municipalidade, tinha sido concluido em 1314. A praça a ele fronteira obtida pela demolição de imóveis foi pavimentada em 1330. Foi palco de discursos, recepções de autoridades eclesiásticas, embaixadores, espetáculos, cortejos cívicos, cerimonias governamentais, carnavais, etc.

Estes cenários, ruas e praças, resultado de um longo período de planejamento urbano, tiveram seu efeito sobre os artista do século XV, que tentavam refleti-los em seus painéis e afrescos.

Pretendia-se restabelecer a concepção estática de forma, da arquitetura greco-romana. Hipertrofia da preocupação plástica, a ponto de sobrepor totalmente o caráter orgânico-funcional da arquitetura.

"A arquitetura sacrifica tudo ao exterior, a magnificência do primeiro olhar, não levando em conta as necessidades que deveria satisfazer; ela nada afirma em suas formas exteriores, que possa relacionar-se com as exigências materiais da vida. As fachadas são por assim dizer, concebidas a priori fora da desatinação do edifício e em desacordo mais freqüente com a distribuição interior." Gauthier.

O humanismo libera e individualiza o homem que, elevado e estimulado, se sente mais criador do que nunca. Embora se inspirassem nas formas greco-romanas, os cânones clássicos são substituídos por uma ação de independência e liberdade, que haveria mais tarde de exibir-se em toda a plenitude, na eclosão do barroco.

A liberdade ampla de poder pensar e olhar em qualquer direção e a liberdade que presidira mais tarde às iniciativas plásticas barrocas, não obstante a disciplina rígida da Contra-Reforma dará resultados que podem ser vistos no sucesso da geometria do espaço, empolgando matemáticos; o homem tenta se despregar de seu psiquismo, resíduos dos velhos tempos em que se entregava às práticas mágicas e aos sanguinolentos rituais megalíticos, que ferreteavam as profundezas do seu inconsciente com a idéia de símbolo. Ocorre uma aplicação de novas formas geométricas: elipse, parábola e a espiral.

"Pietro de Cortona introduz e elipse no peristilo de Santa Maria della Pace. Borromini perfila em elipse todo o pátio interior da Sapienza, faz alternar em paredes convexas e côncavas a torre de San Andrea della Frate, coroa de uma espiral helicoidal aquela de Sapienza: é com a primeira vaga ao estilo barroco, a realização do paralelismo imaginado por Spengler entre as matemáticas e a arquitetura de uma época, a invasão da cinemática, da astronomia kepleriana, desde a geometria analítica no domínio da morfologia estética. Mais do que a elipse, a espiral fica especialmente na moda; os arquitetos aqui se adiantam mesmo aos geômetras; as abas do Gesu, onde os ramos de ciclóide dispostos em curva de queda rápida, terminam em volutas de moluscos".

Muito dessas formas novas, ainda presas ao barroco, atravessaram o oceano, como por exemplo a elipse, para modelar as plantas das igrejas no Brasil.

A Renascença nada produziu em matéria de processos construtivos novos, onde o gótico havia explorado ao máximo todas as combinações estáticas possíveis na esfera da arquitetura. Além do mais a própria unilateralidade de sua índole eminentemente plástica, repeliria qualquer movimento disciplinador mesmo que se apoiasse em um possível organicismo formal. No entanto é ainda um elemento visceralmente estático: a cúpula - marca o início e o término deste período de ouro. A arquitetura Renascentista começa com o levantamento da cúpula da Catedral de Florença, mais conhecida como Igreja Santa Maria del Fiore, para terminar com a construção da cúpula romana da basílica de São Pedro no Vaticano. O primeiro período renascentista na Itália, abrange todo o século XV, tendo Florença e Veneza como principais centros de irradiação. O segundo compreende toda a metade posterior do século XVI e o terceiro alcança os fins deste mesmo século e é marcado pelos dois maiores gênios da época: Michelangelo e Paladio. Dentre alguns personagens podemos citar: Brunelleschi: construiu a cúpula da Basílica de Santa Maria del Fiore. A cúpula atinge oitenta e quatro metros de altura por quarenta de diâmetro. Tinha um grande vigor e poliformia inédita, profundo humanista; Alberti, florentino (poeta e músico), Fra Giocondo, arquiteto dominicano, constrói o Conselho de Verona, mármore colorido e belas proporções; Bramante - nascido em Urbino (assim como Rafael), dá início à basílica de São Pedro com 70 anos de idade; San Gallo (engenheiro militar), Peruzzi (pintor) e Rafael (arquiteto e pintor)- construção de palácios; Leonardo da Vince ( mecânico, químico, pintor, escultor e músico); Sansovino (escultor); Michelangelo - dominou integralmente todas as artes.

A Basílica de São Pedro foi construída nos alvores do cristianismo, e foi ameaçada em fins do século XV pelo Papa Nicolas V e por Alberti que pretendiam transforma-la em moderno monumento renascentista. O Papa Júlio II institui um concurso privado para a remodelação da basílica. Bramante sai vitorioso com suas idéias gigantescas. Foi substituído por Rafael depois de morto e ainda por Michelangelo. Outro vulto da arquitetura, já no final do renascimento foi Vignola, que elaborou a planta do Gesú, Igreja da Companhia de Jesus, que estava talhada a ser o balizamento inicial da arquitetura dita dos jesuítas que mais tarde viria ao Brasil. Na França, a arquitetura renascentista adquire seu caráter genuíno com Francisco I, de 1515 a 1547, continuando até 1590 com Henrique II. O primeiro período se caracteriza pela construção de castelos como os de Loire e em Íle de France, escola de Fontenebleau. Fora os castelos, seguem-se o pátio do Louvre, o jardim de Luxemburgo e as Tulleries. Chegado o século XVII, surge uma reação contra o academismo renascentista, reação que floresce com um novo espírito: o Barroco.

______________________

Referências Bibliográficas:

. CARVALHO, Benjamin . A História da Arquitetura. Edições de Ouro. s/d
. HISTÓRIA GERAL DA ARTE - ARQUITETURA I,II,III,IV,V,VI . ediciones del Prado. tradução: LETRAS, S, 1995
. MUMFORD, Lewis. A Cidade na História. Ed. Martin Fontes.
. SHAVER-CRANDELL, Anne. História da arte da Universidade de Cambridge. A idade Média. Trad: Álvaro Cabral. Ed Círculo do livro, São Paulo 1982.