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Outros artigos do Prof. Bruno Massara Rocha
   

ARQUITETURA E TECNOLOGIA

Bruno Massara Rocha

 

Este texto foi produzido utilizando referências o livro "Tecnologia e Arquitetura", organizado por Lúcia Mascaró pela editora Nobel de São Paulo. O artigo analisado é de Nelson Solano Vianna. Neste artigo, o autor aponta para pontos de relações mais amplas entre a arquitetura e tecnologia, afirmando seguidamente que deve-se estabelecer uma relação próxima entre as condições sociais e o momento histórico em questão para contextualizar quaisquer análises. Comenta sobre a impossilidade de desassociar o desenvolvimento científico e tecnológico dos fatores econômicos, sociais, culturais e políticos que, com a Revolução Industrial, adquirem ainda maior importância. Muitas outros aspectos e conceitos também estão diretamente amalgamados ao desenvolvimento tecnológico ou à sua ausência tais como:
> o graus desenvolvimento da ciência e das técnicas, notadamente o tipo de sistema produtivo;
> o nível de desenvolvimento tecnológico aplicado e grau de desenvolvimento da sociedade brasileira, relevando o tipo de sistema econômico, a disponibilidade de recursos energéticos, etc.


Considerando estas implicações entre outras, torna-se possível pensar quais os reflexos da tecnologia no contexto urbano e habitacional e então refletir sobre o tipo de arquitetura mais coerente com todo
este sistema.

Vários outros autores são citados para aprofundar nas definições de tecnologia: Willian Ogburn, que considera-a "um dos 3 ambientes que circundam o homem: natural, social, tecnológico e as relações de interdependência entre eles, bem como as alterações e transformações relacionais"; numa visão mais tecnicista Eduardo Vittoria define tecnologia como uma "ciência puramente descritiva, de aplicações práticas, e que pode assumir aspectos metodológicos que estabelecem condições de possibilidade". Além disso, a tecnologia seria "intermediária entre a ciência e a industria, baseada no estudo de procedimentos mecânicos e um meio para atividade produtiva. Ou seja, um poder-fazer técnico, destinado a transformar as formas existentes de práxis social, seus modelos de organização e intervenção diversos, flexíveis e substituíveis". Segundo Giorgio Boada, "estudo dos materiais, máquinas e procedimentos necessários para obter produtos industrias de características definidas". Finalmente Donald Schon considera-a "um instrumento ou uma técnica, um produto ou um processo, um equipamento material ou um método de fazer ou construir qualquer coisa que estenda as capacidade do homem".

Mais do que uma ciência puramente descritiva, a tecnologia tem efeitos diretos sobre a organização e a distribuição da sociedade, com considerável influência potencial sobre os sistemas sociais, econômico, infraestruturais, etc. Portanto, pode também ser entendida como uma metodologia, um conjunto de conhecimentos aplicados ou um instrumental de organização e transformação de matéria, energia, habitat, capaz de modificar as próprias condições de existência do homem.

Se por um lado consideramos enquanto técnica uma disciplina associada à capacidade prática de se operar para obter um produto a priori, temos do outro a tecnologia como o momento operativo da técnica, que descreve criticamente os processos de obtenção mais do que simplesmente suas condições de emprego.

O autor utiliza a metáfora do hard e soft para confrontar técnica e tecnologia. De um lado, o hard ou hardware tem uma conotação meramente atuativa e mecanicista dos processos, e está associado à um tipo de tecnologia material, ou utensílio, o soft ou software relaciona-se com processos, procedimentos de caráter decididamente não material, mas operações informativas relativas à direção dos processos de informação-decisão.

Mas existe a possibilidade de afirmação de uma relação de causa-efeito entre o desenvolvimento tecnológico e o sistema econômico vigente? Segundo o autor, a complexidade de relações de uma sociedade impede a determinação do que é causa e do que é efeito, pois fazem parte de um processo interativo de constantes transformações. Seria a tecnologia um meio de dominação? Sabemos que habitamos um planeta no qual as sociedades estão socialmente muito divididas e que existe um regime de dependência entre desenvolvidos e subdesenvolvidos. A tecnologia permeia estas relações, mas não possui vontade própria, caminha atachada às decisões políticas e principalmente econômicas, e em muitos casos pode sim ser um elemento de separação e exclusão. A política guia as diretrizes econômicas e tecnológicas numa relação entre o estado e o sistema produtivo industrial. O Estado se baseia nos produtos da indústria e esta da ajuda financeira por parte do Estado. O autor alerta para a necessidade de se evitar considerar a tecnologia como um instrumento politicamente neutro.

 

Com a Revolução Industrial, o processo de industrialização trouxe uma série de efeito humanos e ambientais, que nos permite hoje reavaliar a idéia inicial de que a industrialização fosse um meio para se atingir a igualdade e o progresso social. Muitos aspectos de exploração surgem de um sistema econômico capitalista industrial. Através de uma visão crítica do conceito de progresso tecnológico, a tecnologia dirigida para a eliminação de contradições sociais é totalmente desprovido de conteúdos reais, haja vista atecnologia atual de comunicação restrita a poucos.

A ideologia industrial de "modernização, progresso evida melhor e mais sadia para todos" pode ser pensada também sob o viés de um instrumento de uma política autoritária e exploratória. Sendo assim, os efeitos negativos da tecnologia não são devidos à ela, mas ao uso que se faz dela, a objetivos econômicos e políticos predeterminados. Podemos afirmar que as tecnologia desenvolvidas em um momento histórico estão relacionadas ou são as que mais se adaptam às condições econômicas vigentes e, no caso da ótica da produção, tentarão sempre minimizar os custos e maximizar a eficiência. A natureza complexa das exigências humanas não está somente condicionada por fatores econômicos. No caso dos setores produtivos o interesse é claro no aumento da produtividade e lucro empresarial.

Segundo as regras de mercado, a tecnologia pretende satisfazer as necessidades de um usuário, e é colocada a serviço daqueles que pretendem provocar as necessidades. No entanto, sua evolução bloqueia no momento em que o capital não reconhece mais seu efetivo interesse. É a lei.

Um modelo determinista, segundo o autor, tentaria explicar as transformações tecnológicas usando causas e efeitos rigidamente definidas. Um modelo alternativo de interpretação das relações tecnologia/sociedade baseia-se num processo interativo, de interferência e interdependência entre as duas variáveis. Uma combinação histórica particular de fatores econômicos, políticos, ideológicos e culturais que determinam os critérios segundo os quais são efetuadas as transformações tecnológicas.

Tecnologia e Arquitetura

Seria a tecnologia um sistema que media a relação entre homem e natureza? Etimologicamente, a tecnologia origina-se do téchne+logos, a ciência dos processos de transformação, verificados na ordem das coisas e por extensão na ordem das idéias. A tecnologia opera na ordem das idéias, que no caso do processo projetual, seria o modo ou o método de idealização associado à finalidade de produção, um processo interativo com influências recíprocas. Num processo tecnológico, ocorrem constantes situacões de incerteza, a concatenação de variáveis de diversas ordens, interagindo continuamente entre si. De fato, envolve processos abertos e dinâmicos, no qual a técnica construtiva não se torna mais suporte, mas substancia das verdadeiras opções projetuais. Portanto, torna-se necessário a evolução do conceito de como se opera para o conceito de por que se opera. O projeto como um momento onde se verificam as operações de tomadas de decisão, e que possui mecanismos operadores compostos por variáveis de entrada (requisitosa que o objeto deve responder e os dados do contexto) e variáveis de saída (o projeto: resultados das operações realizadas pelo operador).

Projeto é tecnologia.

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Referências Bibliográficas:

. MASCARÓ, Lucia. Tecnologia e Arquitetura. ed. Studio Nobel. 1a edição, 1990.